Nota de Pesar – Afrânio Garcia Jr.

É com imensa tristeza que recebemos a notícia do falecimento do antropólogo Afrânio Garcia Jr no dia 30 de novembro em Paris, onde residia. Afrânio foi um grande parceiro e colaborador nosso do Programa de Memória dos Movimentos Sociais (Memov/CBAE/UFRJ) desde o seu início no final de 2014, e já o era com o Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE/UFRJ) desde o 2º semestre de 2012.

Afrânio foi aluno do Colégio de Aplicação da UFRJ entre 1959 e 1965, onde foi presidente do Grêmio e grande animador das atividades extra-classe daquela escola.

Formou-se em Economia pela Escola de Sociologia e Política da PUC-RJ em 1969, tendo feito 2 anos do ciclo básico de Economia na Universidade de Paris entre 1966 e 1968, nos campus de Paris e Nanterre.

Fez seu mestrado (1970-1976) e doutorado (1977-1983) no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional/UFRJ, orientado pelo Professor Moacir Palmeira. Foi um dos coordenadores do Projeto Emprego e Mudança Social no Nordeste (1975-1977) sediado naquela instituição, e tornou-se professor do Museu Nacional desde 1978, aprovado por concurso no ano anterior.

Seus livros Terra de Trabalho e O Sul, caminho do roçado baseados em pesquisa de campo em Pernambuco e na Paraíba, tornaram-se referências fundamentais sobre campesinato e migrações entre o Nordeste e capitais do Sudeste.

Foi assessor educacional da Federação dos Trabalhadores Rurais do Estado do Rio de Janeiro (FETAG-RJ) entre 1978 e 1983.

Em 1998 ingressou na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales como professor e pesquisador, associado ao Centre de Sociologie de l’Education et de la Culture e onde foi diretor do Centre de Recherches du Brésil Contemporain (CRBC) fundado por Ignacy Sachs, e posteriormente do Groupe de Réflexion sur le Brésil Contemporain.

Seus estudos sobre a reconversão das elites agrárias nordestinas em intelectuais e políticos constituem-se também em referências da maior importância na constituição histórica das elites brasileiras. Tais pesquisas complementaram suas contribuições originais sobre a dinâmica das transformações da plantation nordestina a partir das condições de existência do campesinato e dos trabalhadores rurais.

Casado com Marie-France Garcia Parpet desde 1970, antropóloga também formada no PPGAS/MN/UFRJ com pesquisa sobre mercados camponeses, foi professora do IFCS/UFRJ (1981/1996) e posteriormente atuou no Institut de Recherches Agronomiques (INRA) na França e em centros de pesquisa da EHESS. Ambos foram essenciais no intercâmbio entre pesquisadores brasileiros e franceses.

Afrânio formou uma enormidade de alunos de pós-graduação no Brasil e na França e teve grande influência em pós-doutorandos em circulação entre os dois países, além de sua forte influência em redes internacionais de pesquisadores.

Esta trajetória exemplar deixa suas marcas para as gerações presentes e futuras, num processo ativo de amplo reconhecimento.

Sua trajetória através de entrevistas no formato audiovisual pode ser consultada aqui no site do Memov.